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Foto do escritorBianca Stock

A espontaneidade cria pontes

Donald Winnicott, pediatra e psicanalista, dentre tantas contribuições de extrema relevância para o campo da saúde mental, deixou-nos um presente: o conceito de gesto espontâneo. O seu entendimento é de suma importância para a clínica psicológica e para a qualificação dos vínculos e interações pessoais. Escuto diversos pais e professores que na ânsia de serem melhores, tornam-se excessivamente coercitivos com as crianças e adolescentes. A preocupação em demasia, por mais bem-intencionada que seja, tende a tolher o gesto espontâneo e a possibilidade de serem autênticos. Se essa for a tônica cotidiana, em que o ambiente se mostra na maior parte do tempo diretivo, controlador ou sob a égide do treinamento comportamental mecanizado, provocará a sensação de esvaziamento subjetivo e de que nunca são bons o bastante para os adultos.


Poder se expressar de maneira suficientemente satisfatória e encontrar no outro a disponibilidade em acolher, sem julgar ou tentar resolver por nós o que quer que seja, é uma das experiências mais significativas e dignificantes do amadurecimento emocional. Através dela, sentimo-nos verdadeiros, honestos com o nosso mundo interno. Desenvolvemos a empatia, pois ao sermos reconhecidos em nossa inteireza, aprendemos a fazer o mesmo com os demais.


Acolher o gesto espontâneo é criar pontes, propiciar a escuta ativa da singularidade e inventividade. Entretanto, não contempla apenas aquilo que é agradável: a tristeza, o movimento desajeitado, as tentativas, os erros, as dúvidas, também precisam encontrar lugar e serem tolerados, vividos, experimentados na profundidade que demandam. Cuidar de alguém implicada a capacidade de sustentar uma existência, acompanhar o outro no seu processo de transformação e crescimento, e não fazer por ou imprimir-lhe medo constante.

Nesse sentido, compartilhar valores pode ser mais protetivo do que apenas insistir no limite restritivo, sobretudo quando há parca conexão na relação. Portanto, propiciar um ambiente de confiança, promotor do encorajamento pessoal e da responsabilidade, é o contrário da dependência por recompensa ou punição. Para que isto ocorra, duas atitudes podem auxiliar: diminuir a cobrança pessoal e aprender a contemplar a beleza da imperfeição do outro nas suas tentativas de compreensão e criação do mundo.


Artigo publicado na Gaúcha ZH no dia 29/01/2019

Por Bianca Stock, psicóloga e professora universitária

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